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Prêmio Capes de Teses: Pesquisa analisa vida das mulheres beneficiárias de programa habitacional

Trabalho de Tuize Rovere, que foi bolsista da CAPES, venceu na área de Planejamento Urbano e Regional e Demografia

O trabalho de Tuize Rovere venceu a edição de 2024 do Prêmio CAPES de Tese na área de Planejamento Urbano e Regional e Demografia. Doutora pela Universidade de Santa Cruz do Sul (RS), a arquiteta e urbanista, que foi bolsista da Fundação no mestrado e no doutorado, estudou sobre como as mulheres, moradoras de conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida nas periferias urbanas empobrecidas, desempenham suas existências cotidianas de maneira a proporcionar uma vida mais digna para elas e seus dependentes.  A tese tem como título Territórios de (re)existência: cidades, mulheres e as redes de cuidado como subversão da política pública habitacional.

Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Sou graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas e participei durante quase toda a graduação do Escritório Modelo, onde trabalhei com arquitetura e urbanismo sociais, em comunidades periféricas da cidade gaúcha. Isso influenciou tanto minha vida profissional, quanto acadêmica. Por isso, além de ter atuado profissionalmente nessa área, foi natural quando procurei a pós-graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS) para fazer o mestrado e o doutorado. Desenvolvi pesquisas com comunidades periféricas e arquitetura e urbanismo sociais, influenciada pela minha militância feminista e percepção das profundas desigualdades sociais que se ancoram nas questões de gênero, classe e raça.

Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
Minha pesquisa é sobre como as mulheres, moradoras de conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), nas periferias urbanas empobrecidas, desempenham suas existências cotidianas e suas subversões às normas dessa política pública, de maneira a proporcionar uma vida mais digna para si e seus dependentes. É uma pesquisa que flerta com a etnografia, onde acompanhei por aproximadamente um ano mulheres do conjunto habitacional Viver Bem, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS). É visto que as mulheres são a maior parte das titulares do programa em todo o Brasil e, ainda assim, enfrentam dificuldades impostas ou aprofundadas por essa mesma política, num paradoxo entre emancipação e perpetuação de situações de empobrecimento, desemprego, desassistência e segregação socioespacial. Assim, busquei entender como elas desempenham seus modos de viver, cotidianamente, no sentido de cooperação e superação das dificuldades impostas por seu lugar de habitação.

O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Traz uma perspectiva feminista e decolonial para as questões urbanas, especialmente para as políticas públicas habitacionais. Através dela pude demonstrar a profunda importância das territorialidades corporificadas das mulheres e seus modos de vida para a elaboração e implementação dessas políticas. A forma como sustentam a si e suas famílias, como se deslocam espaço-temporalmente, suas trajetórias de vida, a forma como se organizam para desempenhar o trabalho de cuidado e acessar os bens materiais necessários para a sobrevivência, entre outros fatores, são informações importantes para o desempenho do MCMV como uma política realmente emancipatória, que venha a funcionar de maneira abrangente sobre a vida das mulheres, e não somente como provimento de moradia.

De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Oferece subsídios tanto para outras pesquisas com mulheres, como para o aperfeiçoamento da política pública habitacional brasileira, através da escuta e participação efetiva de suas usuárias. Também amplia o campo dos estudos urbanos sob a perspectiva feminista, entrecruzada com as questões decoloniais, tão importantes para o planejamento urbano e regional e para o desenvolvimento de cidades mais equânimes e inclusivas.

Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
O campo dos estudos urbanos sob a perspectiva feminista e decolonial é relativamente novo no Brasil, e precisa ainda de incentivos e reconhecimento. Por isso, receber o prêmio CAPES traz visibilidade para as discussões da área e para a importância do desenvolvimento de mais pesquisas nessa perspectiva, especialmente depois de um recrudescimento do conservadorismo que vivenciamos nos últimos anos. Além disso, a pesquisa traz novas abordagens metodológicas e epistemológicas que são disruptivas no campo científico e que são reafirmadas com o reconhecimento através da premiação. Para mim, como pesquisadora, o prêmio tem aberto portas e proporcionado a possiblidade de ampliar a visibilidade e reafirmar a importância dos estudos feministas e decoloniais no campo do planejamento urbano e regional.

De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?   
Fui bolsista CAPES no mestrado e doutorado, e a bolsa me possibilitou maior dedicação aos estudos e o aprofundamento no trabalho de campo, podendo dedicar um tempo importante ao acompanhamento das minhas interlocutoras nas periferias urbanas. O fomento à ciência e à pesquisa de qualidade em um país de desigualdades extremas como o Brasil é um importantíssimo meio de democratização e descentralização do conhecimento e ainda contribui significativamente para o avanço de possibilidades e soluções para os desafios sociais e estruturais brasileiros.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
Fonte: Redação CGCOM/CAPES

Foto de capa: Ganhadora Tuize Rovere (Arquivo pessoal)

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