Dados do Inep mostram correlação entre permanência estudantil e maiores notas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Perfil dos concluintes revela diferenças por gênero, raça e faixa etária
Estudantes universitários que receberam auxílios financeiros durante a graduação apresentaram desempenho superior no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta sexta-feira (11/4), a nota média geral dos concluintes que receberam algum tipo de apoio de permanência foi de 52,6 pontos, enquanto, entre os que não receberam, a média foi de 48,1 pontos.
Em cursos específicos, a diferença é ainda maior: na medicina, a nota média geral entre os beneficiados com auxílio foi de 67,7, enquanto os não beneficiados alcançaram 60,6. Em engenharia de produção, os estudantes com apoio obtiveram média de 50,8, frente a 44,3 dos que não recebem. Em engenharia elétrica, as médias foram de 52,7 e 45,3, respectivamente. Em nutrição, a diferença foi de 49,1 contra 44,0, e em zootecnia, de 52,6 contra 41,1.
De acordo com as respostas do questionário aplicado, 9% dos respondentes — o equivalente a 34.680 estudantes — declararam ter recebido algum tipo de auxílio de permanência, como alimentação, moradia, transporte ou outro tipo de apoio institucional. Os cursos com os maiores percentuais de estudantes beneficiados foram engenharia florestal (43,6%), zootecnia (38,7%) e engenharia de alimentos (35,4%).
Entre os alunos de instituições privadas, 33% afirmaram ter recebido algum tipo de bolsa, e 28,9% utilizaram financiamento estudantil. Programas, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), foram os mais citados. “Esses dados são muito contundentes, mostram que políticas de permanência fazem diferença e que a gente precisa avançar nesse sentido. O aluno que consegue se manter no curso com ajuda financeira, inclusive, nas instituições privadas, consegue ter um desempenho acadêmico melhor”, comentou o diretor de Avaliação da Educação Superior do Inep, Ulisses Teixeira.

Perfil sociodemográfico
Os dados do Enade também traçaram o perfil sociodemográfico dos concluintes, indicando que a maioria dos estudantes é do sexo feminino, especialmente nos cursos das áreas da saúde e nos cursos tecnológicos. Em fonoaudiologia, 98,5% dos estudantes são mulheres. Na enfermagem, o índice é de 90,1%, e em estética e cosmética, 84,8%. Nas engenharias, a maioria é masculina: engenharia mecânica (89,4%), engenharia elétrica (86,8%) e engenharia de controle e automação (86,5%).
A autodeclaração de cor/raça mostra que estudantes brancos são maioria em cursos, como medicina (73,3%) e engenharia química (69,1%). Já os cursos com maior presença de estudantes pretos, pardos e indígenas (PPI) incluem enfermagem (57,1%) e engenharia florestal (59,9%).
Em relação à faixa etária, considerando a modalidade de ensino: “Os cursos presenciais têm uma proporção muito maior de estudantes mais jovens: 47,5% com até 24 anos, mais 33,8% com 25 a 34 anos. E a proporção no EaD é um pouco inversa. A maior faixa é com 30,7%, de estudantes acima de 40 anos. Quanto às diferenças por grau acadêmico, entre bacharelados e tecnológicos, também há tendências diferenciadas com os estudantes dos bacharelados razoavelmente mais jovens. E dentro dos bacharelados, se a gente comparar com o grupo das engenharias, também tem pequenas diferenças da faixa etária com o grupo da saúde sendo predominantemente mais jovem”, detalha Teixeira.
Bolsas de pesquisa

A edição também trouxe informações em relação ao acesso a experiências acadêmicas complementares ao longo do curso, que é menor entre os concluintes. Apenas 8,4% dos estudantes afirmaram ter recebido bolsa de iniciação científica. A maioria dos beneficiados está concentrada nas instituições públicas (74%) em relaçao às privadas (26%). Na modalidade EaD, 1% dos estudantes receberam bolsa de iniciação científica, seno 99% no ensino presencial. Além disso, 2,96% afirmaram ter recebido bolsa de extensão.
Segundo o Inep, a partir de 2025, o Enade passará a adotar uma abordagem mais ampla na avaliação da educação superior. O novo ciclo considerará cinco dimensões: condições de oferta e formação; pesquisa e desenvolvimento; extensão e participação social; eficiência (acesso, permanência e conclusão); e resultados relacionados à formação e à empregabilidade.
Fonte: Correio Braziliense
Foto de capa: INEP