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Aumenta oferta de cursos de geriatria, mas faltam médicos

Existem 2.600 geriatras cadastrados na Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, um número insuficiente. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda um profissional para cada mil idosos, o que representa um déficit de quase 28 mil profissionais.

Como a tendência é de envelhecimento da população, esse desfalque tende a se aprofundar nas próximas décadas.

longevidade traz demandas específicas de saúde, que exigem uma formação dedicada. Nessa faixa etária, as manifestações de saúde são cada vez menos típicas.

Além disso, a geriatria é uma especialidade essencialmente clínica, com consultas mais longas, muitas vezes com pacientes com comprometimento cognitivo.

Longe de ser um impeditivo, é o contato com o ser humano que traz vida ao cotidiano do geriatra. Ricardo Rocco, 63, professor do Centro Universitário de Valença, no interior do Rio de Janeiro, não escolheu a geriatria, foi a especialidade que o escolheu, diz ele.

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Foto: Павел Сорокин

Depois de ter terminado a residência em nefrologia, trabalhava no Rio de Janeiro, em bairros como Laranjeiras e Flamengo, onde tinha grande contato com a população mais velha. Ao se mudar para Valença, no interior do estado, surgiu a oportunidade de atender os pacientes do abrigo São Vicente de Paula.

“Eu me apaixonei pela geriatria”, diz o professor, que foi convidado pelo diretor do Centro Universitário de Valença para organizar a cadeira da especialidade.

Para ele, o vínculo criado entre profissionais e o paciente é o aspecto mais especial da área. “É bacana você acompanhar o envelhecimento e poder melhorar a qualidade de vida do idoso, é muito gratificante.”

Além de faltar geriatras, os especialistas estão muito concentrados nas regiões Sul e Sudeste ou nas capitais do Centro-Oeste e Nordeste.

A carreira pode começar por dois caminhos. O recém-formado deve se formar em clínica médica, depois pode buscar um curso de especialização e, em seguida, se submeter a uma prova de título para a geriatria, que envolve comprovação da formação e experiência. Outra alternativa é fazer a residência, que tem dois anos de duração.

Perspectivas de trabalho não faltam. Luciana Paschoal, 38, geriatra e responsável por atividades práticas dos alunos do curso de medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, aponta que o recém-formado pode atuar em consultório próprio, em instituições de longa permanência, com cuidados a domicílio, na coordenação de programas de gestão ou em ensino, todas áreas em expansão.

“Está aumentando a oferta de cursos de especialização”, diz Marco Tulio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, mas as vagas de residência ainda são poucas e concorridas.

No ano passado, havia em torno de 300 residentes na área, segundo dados da Demografia Médica de 2023, publicada pela Associação Médica Brasileira. Para efeito de comparação, áreas mais consagradas, como a pediatria, oferecem até 4.500 vagas.

Ricardo Farias, 30, é um desses poucos residentes, no Hospital do Fundão, no Rio.

Foi durante a especialização em clínica médica que ele teve contato com pacientes idosos e descobriu a vocação para a área. Passou um ano se preparando para a prova de seleção da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), por meio de cursos preparatórios, fazendo listas de exercícios e mantendo contato com o ambiente acadêmico.

Farias era o único da sua turma de graduação que trilhou o rumo da geriatria. “É uma área muito bonita. Há uma visão mais holística do problema. Você deixa de ser o médico de um órgão e se torna o cuidador de um indivíduo“, afirma.

Hoje são jovens, como ele, que constituem um quarto do quadro de geriatras no país inteiro.

Farias conta que foi com uma paciente que descobriu o cantor Benito de Paula, que não sai mais dos seus fones de ouvido. “Os idosos são super gente fina. Tem uma carga cultural muito grande. A relação entre médico e paciente, que se constrói quando há tempo para conversar, é gratificante.”

Fonte: Folha de S.Paulo

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