Ansiedade climática ou ecoansiedade são termos cada vez mais presentes no vocabulário. Eles dizem respeito a uma série de preocupações das pessoas em relação às mudanças climáticas, causando ansiedade. Com eventos devastantes como enchentes, secas e queimadas cada vez mais frequentes, muitos indivíduos sentem uma angústia em relação ao futuro do planeta.
Com a pressão das mudanças climáticas se intensificando, a sociedade enfrenta um desafio duplo: lidar com as consequências físicas do aquecimento global e, simultaneamente, cuidar da saúde mental dos indivíduos afetados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu a ansiedade climática como uma questão de saúde pública, destacando a necessidade de abordar suas implicações psicológicas.
Mas é importante entender que a ansiedade climática não é um transtorno mental formalmente reconhecido nos manuais diagnósticos atuais, como a 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) ou a Revisão de Texto da 5ª Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR).
Um certo grau de ansiedade em relação às crescentes alterações climáticas que estamos enfrentando é esperado e, em certos aspectos, pode ser algo positivo. A ansiedade em graus moderados pode impulsionar o indivíduo para se engajar em ações sociais e comunitárias. O problema é quando esta ansiedade se torna intensa, paralisante e causa sofrimento e prejuízo no dia a dia.
“Se a pessoa está experienciando preocupações intensas ou mesmo pensamentos obsessivos sobre alterações climáticas, sofrimento emocional, sentimentos de desesperança ou medo exagerado em relação ao futuro, ou até mesmo reações fisiológicas (fadiga, insônia, taquicardia), e percebe que estas reações estão interferindo severamente no seu funcionamento diário, então este é o momento de buscar uma avaliação junto a um profissional de saúde mental”, explica o psicólogo, professor e pesquisador Christian Kristensen.
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Também há algumas estratégias que a própria pessoa pode colocar em prática, como limitar o tempo de exposição às mídias e a redes sociais, manter o foco naqueles aspectos que podemos controlar, como ações cotidianas e decisões de consumo, e cultivar hábitos saudáveis, como atividade física, contato com a natureza, buscar momentos de relaxamento e se manter socialmente ativo.
Se o ativismo ambiental for realizado de uma forma equilibrada, o efeito geral pode ser positivo em termos de redução da ansiedade. Ainda que as ações individuais não possam, por si só, mitigar totalmente as mudanças climáticas, elas podem proporcionar um sentimento de contribuição significativa, especialmente quando combinadas com esforços coletivos. O envolvimento em grupos de ativismo pode ajudar a experienciar um senso de comunidade, de pertencimento a um coletivo com valores semelhantes e pode até mesmo servir como uma forma de apoio emocional.
“O que vemos nas pessoas que estão em sofrimento psicológico nos quadros de ansiedade climática é uma combinação do conhecimento sobre a realidade e as experiências pessoais. Sabemos por pesquisa que a ansiedade climática é mais prevalente entre aqueles com maior consciência sobre o impacto das mudanças climáticas. Mas também está bem estabelecido que a ansiedade pode ser intensificada por experiências pessoais de eventos climáticos, como desastres naturais, que podem gerar impactos diretos na saúde mental”, ressalta o coordenador do Grupo de Pesquisa Cognição, Emoção e Comportamento e do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE-PUCRS).
Atuação próxima de auxílio a estudantes
Na perspectiva do trabalho de prevenção à saúde mental e acompanhamento, o Núcleo de Apoio Psicossocial (NAP) do Centro de Apoio Discente da PUCRS promoveu, em agosto, a atividade psicoeducativa intitulada “Café, saúde mental e bem-estar: ansiedade climática e boas práticas de sustentabilidade da Universidade”, voltada para estudantes da PUCRS.
O objetivo da atividade foi aproximar a comunidade universitária desta rede de compromisso social e ampliar conhecimentos sobre temáticas relacionadas à saúde mental no contexto de catástrofes climáticas e ao mesmo tempo, pensarmos a sustentabilidade das pessoas e instituições.
A atividade, realizada em parceria com a PUCRS Carreiras, foi desenvolvida pela psicóloga Prisla Ücker Calvetti, do Núcleo de Apoio Psicossocial, e abordou pontos da ansiedade climática alinhada com as propostas do relatório de sustentabilidade da Universidade.
A psicóloga Ananda Rodrigues, consultora da PUCRS Carreiras, relatou sobre a sua experiência como voluntária durante o período das enchentes no Rio Grande do Sul. A palestrante também abordou o Programa Empregar Tchê, que visou integrar empresas atingidas e oportunidades aos acadêmicos por meio de oferta de estágios e empregabilidade voltadas para a comunidade atingida diretamente pelas enchentes. Esta parceria entre os serviços institucionais, potencializam o propósito do trabalho em rede do Centro de Apoio Discente.
Fonte: PUCRS
Foto de capa: Com as mudanças climáticas e eventos extremos, simples dias chuvosos já podem desencadear ansiedade na população. Foto: Isabelle Rieger