Ômicron exigirá vacinação, material para alunos em isolamento e organização em caso de afastamento de professores.
Após um breve período de aulas presenciais, os estudantes brasileiros estão em férias e devem retornar às aulas em meio ao recrudescimento da pandemia de Covid-19, dessa vez com uma nova variante, mais contagiosa que as anteriores. Garantir um retorno seguro às aulas será a principal missão da sociedade brasileira neste início de ano.
Há um certo enfado da população após dois anos de pandemia, seguido de um afrouxamento dos cuidados pessoais, como demonstra o comportamento geral durante o período de festas de fim de ano. Cabe a todos a consciência de que ainda não é a hora de jogar a toalha.
Garantir o retorno seguro, com todos na escola aprendendo, exigirá uma articulação entre profissionais da educação, gestores, familiares e governos.
Em relação à segurança de todos na escola, o primeiro passo é revisar os protocolos sanitários em conjunto com a área da saúde, levando em conta os aprendizados do último ano.
Observar a organização dos espaços da escola, suas regras de uso, circulação, higienização e ventilação deve ser parte do planejamento do ano letivo. A garantia de materiais de higiene pessoal antes do início do ano letivo também.
As escolas devem utilizar as primeiras semanas de aula para orientar dos estudantes e suas famílias sobre os cuidados pessoais necessários dentro e fora da escola, como o uso de máscaras, uso individual de materiais, copos e outros utensílios, higiene frequente das mãos e outros cuidados.
Ainda são necessárias a medição de temperatura de todos aqueles que circulam pela escola e a adoção e comunicação às famílias das medidas de monitoramento de sintomas, isolamento, rastreamento de contatos e pontos de atendimento de saúde. O maior aliado das escolas na garantia da segurança de todos e contra um maior espraiamento do vírus são as famílias.
A garantia do direito à educação se materializa quando todos os indivíduos em idade escolar estão na escola, aprendendo. As escolas já têm em mãos uma lista de estudantes que não voltaram às atividades presenciais no fim do ano letivo de 2021. A busca ativa desses estudantes deve ser realizada antes do início do ano letivo de 2022. Vale lembrar que em boa parte das redes públicas não houve reprovação, e os estudantes foram automaticamente matriculados para o ano letivo seguinte, mas isso não garante sua presença.
Para evitar a evasão e o abandono, devem ser criados protocolos que alertam para ausências não justificadas de estudantes, promovidas trocas de informação entre secretarias de Educação, Saúde e Desenvolvimento Social e a articulação de redes de proteção social no território que garantam mais fluidez no atendimento à fatores extraescolares que impactam no desenvolvimento dos estudantes.
A garantia da aprendizagem se faz com equipes coesas, capazes de identificar as necessidades individuais dos estudantes e agir sobre elas. Não bastam boas diretrizes, currículos e materiais. É preciso investir fortemente na formação dos professores e gestores escolares para ampliar sua capacidade de engajar os estudantes em torno da aprendizagem. O maior desafio da educação na próxima década será o de promover a aprendizagem de todos de forma que cada indivíduo seja capaz de guiar seu aprendizado ao longo da vida. Talvez os efeitos da pandemia na organização dos tempos e espaços de aprender possam abrir uma janela para novas formulações possíveis.
Por fim —e não menos importante— mais uma nota sobre a ômicron. O fato de ela se espraiar mais rapidamente exigirá não só protocolos cuidadosos, mas a adoção de medidas como a vacinação das crianças, a organização de materiais para ensino remoto para estudantes em isolamento e a reorganização de recursos humanos para que não haja perda em caso de afastamento de educadores por contaminação.
O ano letivo de 2022 pode ser melhor do que os anteriores se organizarmos o sistema educacional a partir das orientações da saúde, das necessidades individuais dos estudantes em torno de uma grande parceria entre profissionais da educação, gestores educacionais, famílias e governos em torno da garantia do direito à educação de todos. Nenhum a menos.
Fonte: Folha de S.Paulo